Publicado em: 10/05/2024 10:38:38
O Grupo de Pesquisa em Geografia e Ordenamento do Território na Amazônia (GOT-Amazônia) da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), por meio do Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGG) convida toda a sociedade para a defesa pública de tese do doutorando Anderson Azevedo Mesquita, com o trabalho A GEOGRAFIA DA COMPLEXIDADE E A SOCIEDADE DO RISCO: covid-19 e as vulnerabilidades do Brasil.
A defesa de tese será às 09:00 (Horário de Rondônia), pela plataforma Google Meet (https://meet.google.com/ztj-pcjj-fyd?authuser=0) no dia 20/05/2024.
GOT- Amazônia: Quem é Anderson Azevedo Mesquita?
Graduado em Geografia, Mestre em Economia, desde 2011 sou professor da Universidade Federal do Acre, atuando nas áreas de geografia dos riscos, geografia física, geografia da saúde e geografia quantitativa.
GOT- Amazônia: Anderson, como se deu a escolha do tema que será defendido?
A escolha surgiu a partir da necessidade de contribuir, através da abordagem geográfica, com um dos eventos de maior repercussão global nos últimos anos que afetou diretamente a vida das pessoas. Atrelado a isto, foi importante na minha escolha os trabalhos de monitoramento geográfico sobre Covid-19 que acabei desenvolvendo sobre o estado do Acre, assim como de Rondônia, através do grupo de pesquisa GOT-Amazônia.
GOT- Amazônia: Qual a relevância de sua tese em relação à prevenção de pandemias?
Trata-se de um trabalho inédito onde foi possível identificar as principais vulnerabilidades do Brasil em relação ao enfrentamento da pandemia. Foram 74 variáveis analisadas e correlacionadas com a incidência de casos e óbitos. Além da identificação das vulnerabilidades, o trabalho também apresenta um modelo de regionalização por meio de clusters que servirá como ferramenta para tomada de decisões e gestão de riscos em eventos futuros. Por fim, a pesquisa também destacou o peso que variáveis imateriais, como o perfil ideológico e partidário atrelado ao discurso anticiência, acarretou um cenário de maior vulnerabilidade para o Brasil.
GOT- Amazônia: Comente como é fazer/produzir Ciência Geográfica na Amazônia.
É um grande desafio, pois as condições estruturais, logísticas e de investimentos são sempre escassas para a consolidação das pesquisas na região. No entanto, a Amazônia apresenta um vasto campo de oportunidades onde a geografia, enquanto ciência, pode contribuir de forma significativa na melhoria da vida das populações locais. A atuação do geógrafo é fundamental para promover o desenvolvimento socioeconômico sustentável e racional da Amazônia.
GOT- Amazônia: Comente sobre sua pesquisa: Qual região você destacaria com maiores dificuldades no enfrentamento da Covid-19?
O Brasil é um país de fortes assimetrias sociais, sobretudo pelo elevado grau de desigualdade social e concentração de renda, o que de início já indicava um cenário complexo em relação ao enfrentamento da pandemia. No entanto, no trabalho foi possível atestar que as regiões mais vulneráveis socialmente (nordeste e parte do Norte) acabaram tendo desempenho de enfrentamento a pandemia mais resiliente quando comparada as regiões mais ricas e estruturadas do Brasil (Sul, Centro-Oeste e parte do Sudeste). Em termos gerais, proporcionalmente, a maior incidência de casos e de óbitos por Covid-19 foram registrados paradoxalmente nos estados e regiões mais ricas e estruturadas.
GOT- Amazônia: Comente sobre sua pesquisa: Como explicar que as regiões mais dinâmicas e estruturadas foram exatamente aquelas que se demonstram mais vulneráveis a pandemia de Covid-19?
Este é o ponto central do trabalho! A leitura correta não é predizer que pobreza é um predicado de resiliência, nunca será! O total de casos e de óbitos que ocorreram nas regiões mais pobres, estatisticamente, são compatíveis com o cenário registrado em outros países com perfil similar ao Brasil. A controvérsia está na menor resiliência das regiões e estados mais dinâmicos, que conforme a pesquisa é explicada por outro fator, no caso, o perfil ideológico da população, especificamente a vinculação do eleitor da extrema-direita frente ao discurso anticiência, contra medidas de proteção e mais a frente contra a vacinação.
GOT- Amazônia: Comente sobre sua pesquisa. Efetivamente, como ocorre a vinculação do perfil ideológico da população e a maior vulnerabilidade aos efeitos da pandemia?
Os testes de correlação e de estatística multivariada utilizados na pesquisa foram claros quanto à vinculação existente entre o perfil partidário da população e o cenário estabelecido na pandemia. De forma significativa, os estados brasileiros com maior proporção de eleitores vinculados à extrema-direita tiveram, no mesmo sentido, maior proporção de casos e óbitos por Covid-19, mesmo que o contexto socioeconômico e de estrutura de saúde se demonstrassem substancialmente melhores. Assim, concluísse que a incorporação do discurso anticiência, antivacina, contra o isolamento social e o uso de máscara, que foi fortemente propagado por grandes expoentes da extrema-direita brasileira, se demonstraram determinantes na ampliação dos riscos da população.
Fonte: GOT-Amazônia